Estado tem programa que ajuda produtores a lidarem com meio ambiente com rentabilidade.
A ideia de que agropecuária e meio ambiente caminham em lados opostos não é apenas um mito, mas em Mato Grosso do Sul existem exemplos mostrando justamente o contrário: que a sustentabilidade pode ser uma grande aliada para aumentar a produtividade no campo.
Quando Valda Maria da Silva Alves e o marido Ari Roberto Alves assumiram a fazenda que receberam como herança há 12 anos em Figueirão, grande parte da mata ciliar dos pequenos cursos d’água que existiam no local havia sido removida. O casal então arregaçou as mangas e começou a implementar mudanças para recuperar o local degradado gerando recursos que poderiam ser usados na manutenção do rebanho.
“Nós fizemos uma barragem de contenção da água da chuva acima da cabeceira. Antes, a água doce escorria pelo capim e ia embora. No primeiro ano, o local secou depois da temporada de chuvas. No segundo, já ficou um pouco mais de tempo cheio, no terceiro já não secava mais e do quarto para o quinto, você começa a ver as antigas nascentes brotando de novo”, diz Valda.
Todo esse trabalho foi acompanhado pelo replantio da mata que havia sido removida da APP (Área de Preservação Permanente).
“A natureza é lenta para se recuperar. Nós começamos do zero, não tinha água aqui. Quando chegava a seca, nós levávamos o gado a quatro quilômetros do pasto para tomar água no rio mais perto e hoje temos água para todos os lados”, conta a pecuarista.
Se por um lado as intervenções reduziram o tamanho da pastagem, já que parte passou a ser ocupada pela mata, por outro o rebanho dobrou no decorrer do tempo, derrubando por terra de vez o argumento de que zelar do meio ambiente inviabiliza economicamente a propriedade.
“Tivemos melhoras não só na vegetação, mas na qualidade da pastagem aliada a técnicas de manejo, como trocar o gado de pasto em menos tempo, evitando o desgaste da grama”, completa.
Ajuda
Os produtores que ainda não sabem como começar a desenvolver esse tipo de trabalho contam com a ajuda do Senar (Serviço Nacional de Aprendizagem Rural) vinculado à Famasul (Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso do Sul), pelo Mais Inovação.
Esse programa existe desde 2012 e tem o objetivo de recuperar áreas degradadas e intensificar a produção agropecuária com a implantação de inovações tecnológicas e adequação gerencial, contribuindo para aumentar os ganhos de produtividade, qualidade e desempenho, o que traz diferenciação competitiva para esses empreendimentos rurais.
A propriedade de Valda faz parte dessa ação do Senar, embora praticamente as ações de sustentabilidade já tivessem sido implementadas por conta pelo casal antes da consultoria, que agregou mais no controle da gestão da propriedade, com planilhas de gastos e receitas.
“Dentro do trabalho de assistência trabalhamos a propriedade como um todo, realizando juntamente com o produtor algumas ações para a contenção da água da chuva, tais com caixas r terraços proporcionando a diminuição do processo de lixiviação do solo e, consequente, um menor processo erosivo”, diz o coordenador do Mais Inovação, Antônio Geovani.
Atualmente o programa atende 250 propriedades em 44 cidades do estado. “É notório no decorrer dos meses e anos o aumento no volume de água em lugares que já não minava, a nascente ressurge e as propriedades passam a ter maiores reservas, sem dúvida uma grande riqueza para o produtor”.
Olhando o futuro
Para o diretor-tesoureiro da Famasul, Marcelo Bertoni, aumentar a abrangência das propriedades que crescem em comunhão com o meio ambiente ainda é um desafio.
“Qualquer forma de sustentabilidade tem que ser econômica também. Temos leis no Brasil que são muito restritas, como por exemplo o Código Florestal que deve ser cumprido dando 20% da propriedade para a reserva legal. Tem muito produtor rural que talvez não veja isso e ele tem que ser responsabilizado”, opina.
Para ele “é tranquilo” cumprir a legislação vigente, basta que o produtor tenha boa vontade. “Quando a gente quer fazer o certo, a gente faz o certo“, conclui Bertoni.